quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pedra Filosofal















Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.



eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.



Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.




Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.








António Gedeão

Imagem Retirada da net desconheço o autor



2 comentários:

  1. ...Um dos meus poemas preferidos... fico mt feliz por o rever aqui... :-)

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  2. Além de ser um dos meus poemas preferidos faz-me lembrar a minha adolescência.
    "Eles não sabem, nem sonham,
    que o sonho comanda a vida,
    que sempre que um homem sonha
    o mundo pula e avança
    como bola colorida
    entre as mãos de uma criança."
    Incentivou-me muito nos momentos em que o meu mundo teimava em não avançar.
    Recordações...

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