
O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssim
Cansaço
Álvaro de Campos
Heterónimo de Fernando Pessoa
Heterónimo de Fernando Pessoa
Num dia como hoje que bem me soube ler àlvaro de Campos...
ResponderEliminarBjs
...Nada como passar por aqui, e ter o prazer de reler os meus poetas preferidos!
ResponderEliminarExcelente escolha, excelente poema :-)
...Agora...Obrigada pelas palavras, fico sem jeito...
Beijinho
...Gosto de passar por aqui de vez em quando, nem sempre batendo à porta.
ResponderEliminarTalvez algum cansaço dos dias.
Este poema do Fernando Pessoa é magistral, como são, de resto, praticamente todos os que escreveu.
ResponderEliminarGostei de o reler, obrigado pela partilha querida amiga.
Beijo.
valeu pelo comentario, que bom q gostou...daqui a pouco tem mais historia!!!!
ResponderEliminart+
"Cansaço da vida
ResponderEliminarcansaço de mim...
vai-se chegando
e eu chego a meu fim"
Como numa lindíssima canção brasileira que eu ouvia quando era jovem, cantada pela Ângela Maria (creio que era o seu nome)
Saudações